Gateway, Frederik Pohl

No futuro a humanidade passou a colonizar mundos próximos – Vênus e Marte – enquanto a Terra está superlotada com 25 bilhões de pessoas e a fome e miséria é uma constante.

Durante a exploração de Vênus é encontrado em um asteroide (ou cometa morto) um hangar cheio de naves alienígenas, da raça denominada Heechees, desaparecida a milhares de anos. A partir daí inicia-se a exploração do espaço externo em naves que levam 1, 3 ou 5 pessoas no máximo e cujo controle não é compreensível pelos operadores. Basicamente não há garantias de retorno de cada missão e por isso paga-se bem por missão bem-sucedida e pelas descobertas. A estação é controlada por uma empresa chamada Gateway e recebe pessoas dos Estados Unidos, Brasil, União Soviética e Índia para treinamento, tentando sempre vender a ideia de que há uma necessidade urgente de conseguir uma nova tecnologia que “faça a diferença”.

Robinette BobBroadhead é o personagem principal do romance. É sob sua ótica que vemos a sua chance de vencer a miséria após ganhar na loteria e ir para o treinamento na estação Gateway – o hangar onde estão estacionados as naves. Anos depois, consultando com um psiquiatra eletrônico apelidado de Sigfrid von Shrink, Bob tenta exorcizar os fantasmas do período em que passou na estação.

Sim, Bob Broadhead teve sucesso! Mas a que preço?

[Opiniões]

Gateway lembra em muito as ficções distópicas, as ficções militares e as ficções que se passam em estações espaciais. Há algo dela em Babylon 5 e Star Trek: Deep Space Nine, séries de TV que tratam do dia a dia em estações espaciais. Diferente delas Pohl detalha as questões oferente à manutenção, despesas e parte da questão política. Ali eles estão mexendo no lixo em busca que algo que leve a humanidade para a frente e que permita a colonização do espaço. Há uma ironia fina em certo momento. Ao relatar o preço pago pela descoberta de um novo planeta ele não é tão interessante quanto o valor pago por lixo heechee, exatamente por que não é possível transporte a humanidade para ele – a não ser que se considere o transporte de quatro pessoas de cada vez, correndo o risco de a viagem não se completar por falta de combustível.

Gateway assim, oferece algo em maior profundidade: a alma humana, o desejo e a necessidade de conquistar o espaço e evidentemente o risco que envolve esta missão. Em última análise também vemos o quê toda esta pressão faz com a psique humana.

Aqui ninguém quer realizar estes feitos apenas para a glória da humanidade como em Star Trek, mas por uma necessidade econômica. Todos querem ficar ricos com os dividendos da Gateway, Inc. Mas não deixa de ser realista a maneira aprensentada: os prospectores, a Gateway e a humanidade não sabe operar as naves e cada missão é uma missão suicida! A opção é a miséria na Terra, ou Vênus, ou Marte ou conseguir a sorte grande e encontrar algum artefato valioso dos misteriosos Heechees que foram embora há milênios e deixaram para trás uma Vênus perfurada, assim como uma estação em um cometa morto e também perfurado.

Quem são os Heechees? Quais são seus objetivos? Para onde foram? Todas perguntas filosóficas demais para a grande questão: qual a missão terá a sorte grande e trará algo de tão valioso que pague bons royalties aos sobreviventes que permita abandonar aquela vida?

Gateway, Frederick Pohl, Del Rey Book, 1977, ISBN 0-345-25378-7.
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